segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Moça do Capuz Marrom da Toca do Assis





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6/agosto/28, 16 horas...

Aperto a campainha com o coração aos pulos sem saber como serei recebido ao tentar explicar que estou ali somente para descrever a cena numa crônica...

De túnica marrom de tecido grosso, cabelos curtos, sorriso sincero, olhar profundo e meigo ela me recebe no portão de uma casa de estilo colonial ao lado do Convento de Santa Teresa...

Seu nome, Daniela...

Enquanto conversamos duas outras meninas, com mesmos paramentos pesados, brincam com passarinho na gaiola suspensa sob uma árvore...

Tenho curiosidade em saber como chegou até ali, a reação da família, se já namorou...

Encontro uma fé inabalável de alguém que desempenha uma missão que crê em toda sua essência...

Convida para conhecer a capela...

Titubeio...

Entro...

É uma casa simples, mas organizada e clara...

No corredor de longas tábuas corridas e enceradas, tropeço em chinelos espalhados...

Outras meninas sorriem...

Todas estão descalças...

Indago se devo ficar também...

Fico...

Entro na Capela...

Tem quatro metros quadrados...

Duas janelas imensas, nenhuma luz artificial direta...

Na parede um crucifixo de um metro com imagem de Jesus, atrás do altar com toalha alva e, acima, ostensório cor de ouro...

Três lamparinas de velas circundam a cruz a cada lado...

Na parede direita, quadro do Coração de Maria...

Incenso num turíbulo depositado ao chão...

Dois genuflexórios e uma cadeira tipo poltrona...

Três meninas ajoelham-se de cada lado do altar,...

Daniela fica em frente à porta de saída...

A última da esquerda toca violão, depois da ladainha...

Uma melodia que arrepia a emoção...

Cada uma fala de sua vez...

Descrevem o propósito de seguir com a missão...

Da dor do que ficou para trás...

Servindo os ditos "feios, repugnantes, abandonados, chatos"...

Só elas mesmos...

Eu odeio os chatos...

Rituais me cansam...

Suo...

Daniela percebe e liga um ventilador em minha direção...

Mas elas não são sofredoras...

Sabem o que querem...

No meio de orações falam ao ouvido uma das outras e sorriem molecamente...

São alegres...

O cerimonial delas não é cena de sofrimento...

Ninguém aguentaria aquela rotina, aquela vida, se não tivesse fé...

Só fé em toda sua dimensão...

Fiquei fascinado por estas jovens do Instituto de Vida Consagrada Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento - Toca do Assis, ao vê-las aparando cabelos, unhas, cuidando de feridas e conversando carinhosamente com população de rua na Lapa com um sorriso comovente...

Elas tentam esconder a beleza em trajes, adoração e caridade...

Independente de dogmas, são as mulheres mais belas que já conheci...



Jorge Schweitzer







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2 comentários:

  1. Engraçado...
    Tais moças empobrecidas e esfarrapadas em nada se parecem com o nosso querido papa-nazista-queostenta-jóias-papa-móvel-vaticano-ouro-obras-de-arte-político.
    Não entendo como você, grande Jorge, só enxerga defeito nos evangélicos, enquanto os ricaços clérigos católicos, abusam dessas meninas, submetendo-as às mais miseráveis e desnecessárias condições.
    Abraço
    Rafael Allevato

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  2. Nossa Rafael, bem se diz que "a ignorância é a raiz de todos os males". E quanta ignorância em afirmar algo do tipo: 1 - "tais moças empobrecidas e esfarrapadas;", mal sabe vc a riqueza de alma dessas jovens e quisera as imitasse um pouco... 2 - "nosso querido papa-nazista-queostenta-jóias-papa-móvel-vaticano-ouro-obras-de-arte-político", a começar pelo nazista, que se opõe totalmente aos dogmas e ensinamentos da santa igreja católica. Não se ama o que não se conhece e se partirmos do pressuposto de que o papa é o maior representante de Cristo na terra, o que há de mal em honrá-lo por tamanha dádiva? Dai a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus. 3 - Quanto à riqueza ("ricaços cléricos católicos"), não é mal em si, desde que se saiba tirar dela um bem maior. 4 - "submetendo-as às mais miseráveis e desnecessárias condições", se não sabe, informe-se mais: as vocações não são impostas, todas que ali estão correspondem ao chamado de um amor autêntico, despojado, e, ao contrário da sua citação, dotado de muita dignidade e honra, que é o que elas transmitem a cada irmão acolhido ou visitante. Se possível, visite uma casa da Toca e verás quão perfeito amor habita ali.
    Sem mais indagações...
    Paz e bem!
    Abraço.

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