A Chacina da Candelária e o Ônibus 174...

Fazem 13 anos...


Morava na Rua da Glória número quatro...


Por volta de meia noite...Saio de casa...


Pego a moto...


Sigo em direção ao prédio da Esso na Presidente Wilson...


Em frente ao MAM carros de polícia e reportagem...


Atravesso caminhando os canteiros escuros iluminados pelo vermelho alternante dos bigurrilhos...


Vejo dois corpos ainda descobertos...


Wagner agoniza no posto de gasolina amparo por Senhor...



No meio da pequena multidão corre a notícia que existem outros oito corpos na Candelária...


Não vou até lá porque acreditava impossível uma notícia daquelas...


Volto para casa e pela TV escuto em edição extraordinária...


Retorno à rua...


A Candelária está tomada de carros de polícia e reportagem...


Era inacreditável...


Dantesco...



...



Dois anos atrás...


Pego uma passageira em frente ao antigo Cinema Comodoro que virou igreja evangélica...


Uma senhora e a filha com um bolo na bandeja...


Destino, Batalhão de Choque da PM...


No caminho ela informa que vai visitar o filho preso...


- Mas certamente ele sairá logo...


- Muito difícil, moço...


- Quantos anos ele deve?


- 149 anos...


- O quê? O que ele aprontou?


- Candelária! Encontraram balas da arma dele em quase todos os corpos. Mas acho que emprestou a arma prô Índio atirar... O Wagner nem precisou reconhecê-lo, só falou na delegacia: "não te avisei que a gente iria se encontrar de novo..."



Ela me conta detalhes do crime que são idênticos aos mostrados no Linha Direta de ontem...



O alvo principal era Come-Gato, mas na hora perdeu-se o controle da situação quando um deles começou a disparar e gritar com armas nas duas mãos..



Um dos sobreviventes foi o sequestrador do ônibus 174, anos depois... Em que assassinou uma passageira...



Cruzamos os portões...



Ela identifica-se com um cartão magnético todo verde na parte da frente...



A guarda da portaria principal estava reforçada pois o traficante Sussuquinha havia fugido dali mês passado...



Numa quadra de futebol de salão cercada por alambrado ele a aguarda com uma bíblia abaixo do braço...


Aceno para ele de longe...


- O senhor que conhecê-lo?

- Não!



Jorge Schweitzer

escrito em 30/junho/2006