Bruno Gouveia, líder do Biquini Cavadão, perdeu o filho Gabriel num acidente de helicóptero. Ele segura um boneco de barro que, para ele, representa o menino
Foto:Mônica Imbuzeiro / O Globo
Pais e mães que já viveram o luto pela perda de seus filhos contam como seguiram em frente
O músico Bruno Gouveia conta que chegou a urrar de dor e dedicou um show ao filho
ROBERTO KAZ
O Globo
RIO - Na madrugada do dia 27 de janeiro deste ano, um incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, provocou uma das maiores tragédias da história do país — e a maior do Rio Grande do Sul.
Duzentas e quarenta e duas pessoas morreram — grande parte, jovens na faixa dos 20 anos, alunos da Universidade Federal de Santa Maria.
Os quatro acusados — dois sócios da boate e dois músicos da banda Gurizada Fandangueira, responsáveis por iniciar o fogo — foram soltos, há duas semanas, do regime de prisão que cumpriam preventivamente.
O processo de homicídio doloso, que corre na 1ª Vara Criminal de Santa Maria, ainda não tem previsão de julgamento.
Passados cinco meses, o fato ainda repercute. Noticia-se o paradeiro dos réus, dos feridos e dos pais, que fundaram a Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.
Em maio, quatro meses depois da tragédia, houve uma série de manifestações na cidade do interior gaúcho.
— Trata-se da perda do mundo presumido; 242 jovens; 242 planos frustrados de futuro, carreiras, casamentos, filhos, viagens, alegrias, sucesso — diz a terapeuta Adriana Thomaz.
— Mas, por mais dolorosa que seja a circunstância, há sempre a possibilidade da resignificação da vida — completa.
Especializada em lidar com pessoas que passaram por essa experiência (algumas delas entrevistadas nesta reportagem), Adriana, profissional adepta da chamada terapia do luto, diz que o período de dor após a perda de um ente querido não tem prazo determinado, embora costume durar de um a dois anos.
— É quando geralmente se dá a construção de sentidos para a vida e para a perda, justamente porque a pessoa enlutada pôde viver as datas significativas pela primeira vez.
Autoridade no assunto, o psiquiatra britânico Colin Murray Parkes diz, no livro “Luto — Estudos sobre a perda na vida adulta”, que só quando uma pessoa para de tentar recuperar é que percebe que nunca perdeu.
— Você investe tanto amor num filho. O sofrimento está ligado ao amor investido — explicou Murray à Revista O GLOBO.
— E, no Ocidente, em países desenvolvidos, onde o sistema de saúde é melhor, a morte de uma criança ou adolescente é inesperada, sentida de forma mais severa.
Para saber como atravessaram o processo de luto pela perda dos filhos, e de que forma sentiram a tragédia ocorrida em Santa Maria, uma equipe da Revista
O GLOBO esteve com sete pais ou mães ao longo dos últimos meses.
Do surfista Ricardo Bocão ouviu que só entra no mar acompanhado de Vitor, morto em 2012.
Do músico Bruno Gouveia, líder da banda Biquíni Cavadão, soube que ele não sobe ao palco sem antes falar com Gabriel — cuja morte completa dois anos amanhã.
Coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto, da PUC-SP, a psicóloga Maria Helena Franco diz “que a dor é para sempre, o luto, não”.
Por isso, Daniela Duque, mãe de Daniel, morto em 2008 em frente à boate Baronneti, em Ipanema, ainda celebra o aniversário do filho.
— É piração? Não me faz mal — diz Daniela.
— Culturalmente, a gente tem que carregar o luto, mostrar tristeza, mas não posso ir contra minha essência.
Quando houve a tragédia em Santa Maria, ela pediu ao filho que “enviasse luz para aqueles meninos”:
— Converso com ele na cabeça, às vezes em voz alta.
Confira os relatos desses pais: Ricardo Bocão, 58, surfista e empresário, é pai de Vitor e Bruce, e marido de Luciana.
Vitor faleceu em 2012, aos 13 anos, em casa. Teve morte súbita, como se o corpo se desligasse sozinho.
Luciana Bocão, 45, empresária, é mãe de Vitor e Bruce e mulher de Ricardo Bocão. Bruno Gouveia, 46, é vocalista da banda Biquíni Cavadão. Seu filho Gabriel morreu em 2011, aos 2 anos e dez meses, junto da mãe, Fernanda, e outras cinco pessoas, na queda de um helicóptero em Porto Seguro.
Nesta segunda-feira, o desastre completa dois anos.
Corre um processo contra o espólio do piloto, que decolou com a habilitação vencida havia seis anos.
Rosangela da Costa, 45, é mãe de Paula, Karoline e Adonai, morto em 2010 de ataque cardíaco, na Marinha.
Priscila Paiva, 46, produtora, é mãe de Isabella, Felipe e Pedro, morto em 2008 devido a uma reação a dois remédios.
Daniela Duque, 44, empresária, é mãe de Daniel, Sonny e Luana.
Daniel morreu em 2008, aos 18 anos, com um tiro, diante da boate Baronneti.
O acusado, segurança do filho de uma promotora, foi absolvido. Cibele Paranhos, 55, funcionária do Detran, é mãe de Mariana, morta em 2011 aos 22 anos, atropelada por um carro na Avenida Presidente Vargas, no Centro.
O caso não foi a julgamento.
Cibele mora com sua mãe, Arlete, em Vila Isabel.
PS: Qualquer jornalista que resolva abordar crimes recentes violentos e a dor da perda que envolva pais e mães, obviamente que irá de imediato associar a matéria à Dra. Cristiane Marcenal, mãe de Joanna; menos o Jornal O Globo... Existe um grau de cumplicidade sublimar incompreensível do jornal O Globo tentando ignorar o Caso Joanna como assassinato cruel, premeditado e violento cometido por um funcionário do TJ/RJ e acobertado por seu parente político... Algo nos leva crer que existe algum tópico no Manual de Redação do Globo tendo o Caso Joanna como 'censurado'... Sugiro que o repórter Roberto Kaz explique a razão de não ter contatado a Dra. Cristiane Marcenal mesmo tendo disponível o número do celular da mãe de Joanna na redação... Aguardemos! JS
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