O Menino Invisível

Hoje fiquei na dúvida se deveria sair para trabalhar...

Resolvi que não...

Depois de saber que na sessão da tarde repassaria pela enésima vez o filme 'O Paizão'...

Este filme é completamente bobildo mas emocionante...

Conheci, tempos atrás, um rapaz que seu filho foi morar com ele ainda criança...

Somente os dois...

Aquilo era uma festa maravilhosa tanto quanto o filme mostra...

Não poderia ser diferente...

Pai e filho morando sozinhos sem o comando de uma mulher mandona vira uma zona maravilhosa mesmo...

Mesmo que ambos tentem se organizar...

O que aparece no filme é o retrato perfeito da realidade...

O adulto por impulso tenta fazer absolutamente todas as vontades da criança...

É incontrolável...

Falo com conhecimento de causa em razão que o rapaz real eu conheci muito bem e meu amigo até hoje...

Eu soube todos detalhes desta relação pai e filho...

O que aparece no filme é tão parecido com a história deste amigo que emociona quando revejo o filme...

Lembro do episódio que certa vez o menino chegou em casa e contou que um pivete roubou seu chinelo e o pai saiu atrás para reaver o tal chinelo...

Circularam por Copacabana inteira até que ao chegarem na Praça Serzedelo Correa o pai identificou o ladrão pé de chinelo com outros meninos cheirando cola...

A descrição era inconfundível de um pivete negro com cabelos tingidos de loiro...

O filho ainda tentou negar que aquele não seria o ladrão...

O pai o deixou sob a guarda de um segurança de um hotel da Av. Copacabana e saiu para reaver o chinelo...

O filho ficou apavorado e tentou atravessar a rua para acompanhá-lo...

Chinelo resgatado aconteceu o improvável:

- Pai, você acha que depois de tudo isto eu vou enfiar meu pé aí dentro?

Criança é improvável...

Noutra ocasião o chefe da segurança do prédio implicou com o menino e o pai foi tomar satisfações...

Pela janela  do segundo andar o menino assistia tudo rindo muito da situação do seu falso herói  destemido largar tudo para defendê-lo daquele bigodudo que todos temiam mesmo que acusação por ele negada de apertar campainhas de outros andares e disparar para se esconder fosse verdadeira...

Talvez este menino igualmente se lembre que certa vez este rapaz lhe disse:

- Eu te juro que  gostaria que você não fosse obrigado jamais ao ir ao colégio que não para ficar na porta aguardando amigos e namoradas ou no pátio jogando bola; ter horários; não comer big burgão; pizza ou o joelho escorrendo queijo do Pin-Pin da Barata Ribeiro... Só praia, futebol e uma menina linda ao lado do final de tarde no Arpoador...

Lembro dele não proibi-lo do altinho na calçada da Hilário de Gouveia ao lado da delegacia...

- Pô, pai, se a gente fizesse merda os policiais já teriam proibido...

Lembro que este rapaz começou a ficar chateado quando o menino aprendeu a andar sozinho por Copacabana inteira e lhe deixava em casa feito uma 'mãe' madona contando as horas até ele voltar...

Pois é...

O filme Big Daddy parece muito com esta trajetória recente deste meu amigo...

Tento mais enxergar o enredo pelo olhar do menino que da visão de Adam Sandler...

Imagino quanto seria maravilhoso seguir o conselho paterno de Sonny Koufax de qualquer menino usar óculos escuros para ficar invisível em determinadas situações...

Já imaginou?!

Criança adora estas fantasias de ficar invisível...

Fiz uma brincadeira sobre isto no texto 'O taxista invisível' por aqui...

Gosto de brincar com estes devaneios...

E hoje brinquei de ser criança não saindo para compromisso de adulto...

E...

Rolei de rir alto sufocando a gargalhada com almofada para vizinhos não acharem que definitivamente perdi o rumo...

E me emocionei baixinho, quase em silêncio, com o final...

Então...

Me senti guri novamente em praticar a molecagem de não sair para trabalhar...

Amanhã, juro que acordo cedo...

Melhor...

Vou tentar...

É que Two and Half Men passa tarde...


Anteontem revi o episódio em que participa o Michael Clarke Duncan, ator de 'A Espera de um Milagre',  e ri tanto que perdi o sono e tive que aguentar um filme da Globo para pegar no sono...

Normalmente durmo feito um guri...

Fecho os olhos e vou embora...

E, sonho em capítulos...

E programo meus sonhos antes de dormir nos segundos anteriores a emborcar na viagem...

É verdade...

Conto qualquer hora...




Jorge Schweitzer