Rio de Janeiro...
Jardim Botânico...
12 de junho de 2000...
O ex-menino de rua e sobrevivente da Chacina da Candelária Sandro Barbosa do Nascimento, armado com um revólver, assalta o ônibus da linha 174 (Central-Gávea)...
Um passageiro consegue saltar e avisa a polícia...
O ônibus é perseguido e parado na calçada em frente ao Clube Militar por uma viatura da PM...
A maioria dos passageiros do 174 saltam pelas janelas e portas na abordagem...
Onze pessoas não conseguem sair do veículo...
Naquela tarde comentei com um passageiro do Táxi em Movimento que estava ocorrendo um seqüestro de ônibus...
Seqüestro de ônibus?
Como?
Ninguém entendia nada...
O calvário duraria cinco horas...
A então estudante Janaína Lopes Neves, 23 anos, é uma das vítimas que ficaram a mercê de Sandro...
Sandro pede ao Policial Militar que lhe dê seu boné...
Tentando demonstrar boa vontade é atendido pelo policial...
Sandro circula faceiro ostentando o quepe da corporação com a aba virada para trás...
Janaína tem um revólver apontado para a cabeça e é obrigada a escrever, com seu batom vermelho, as frases ditadas pelo bandido que ela consegue imprimir invertido no pára-brisa do ônibus para poder ser lido por que estava de fora:
“Ele vai matar geral às 6 horas”...
e...
“Ele tem pacto com o diabo”...
Logo após Sandro determina que Janaína se deite no chão do ônibus e atira ao lado de sua cabeça...
Parecia uma execução...
Janaína é induzida a simular que havia sido atingida...
Fica deitada como se houvesse sido morta...
Pânico ao vivo e a cores...
Todas TVs documentaram o espetáculo macabro em frente a sede da Rede Globo...
Sandro se sente o mestre-sala dentro do sambódromo que sempre idealizou...
O BOPE é chamado...
O BOPE era até então desconhecido para a mídia...
Negociações, promessas de éden; desculpa; foi mal; perdões e outras mentiras...
Bandido é louco mas não é burro...
Fingiu aceitar acordo improvável...
Sandro saltou do ônibus com revólver apontado para Geisa Firmo Gonçalves...
Geisa era professora primária e tinha 20 anos de idade...
A platéia formada na rua ficou em polvorosa...
Mata, mata, mata...
Tudo parecia acabar bem e o Sandro se entregar...
Mata, mata, mata...
De repente sai do meio do nada o policial do BOPE Marcelo Oliveira dos Santos e dispara a queima roupa em direção a confusão com seu fuzil à tira-colo...
(Tive informações no BOPE que Marcelo saiu da corporação desgostoso, formou-se em direito e atualmente tem outra profissão)...
Ao invés de acertar Sandro, Marcelo atira acidentalmente em Geisa...
Sandro completa a ação e dá mais três tiros em Geisa Firmo Gonçalves...
É imobilizado...
Todas câmeras registram...
É colocado na viatura policial sem ferimentos...
Chega ao hospital morto...
Estrangulado...
(Gostaria de mandar um abraço ao policial anônimo que matou Sandro, eu gostaria de estar em seu lugar naquele camburão)...
Pena?
Gostaria que Sandro estivesse na Suíça...
Fazendo companhia a Wagner...
(Na noite do episódio da Candelária eu estava de motocicleta à caminho da Esso na Rua Presidente Wilson e parei no posto de gasolina em frente ao MAM e presenciei Wagner ensangüentado sendo atendido – narrei no http://jorgeschweitzer.spaces.live.com/blog/cns!335E0E21D84FF041!2947.entry)...
Atualmente,Wagner sequer consegue articular o próprio nome...
É considerado perseguido ideológico pelas ONGs de proteção de direitos humanos...
Wagner, logo após sobreviver da Candelária foi morar em albergue de custódia de testemunhas na Praça Onze e foi pego tentando assaltar sambistas que se dirigiam ao Sambódromo...
Tomou mais cinco tiros na cabeça...
Milagre...
Sobreviveu novamente...
Seu rosto é disforme...
Uma máscara de massa proporcional aos seus desvios...
Se tornou um boneco de si mesmo...
(Tempos depois conheci o sujeito que deu a maioria dos tiros nos meninos da Candelária que tentavam descer de seus dormitórios acima das bancas de jornal... Sua arma foi identificada pela balística... Sua mãe tentou me apresentar o filho policial, agora evangélico, preso no quartel do Batalhão de Choque do Estácio condenado a mais de 200 anos de cadeia... A versão da mãe seria que a arma foi entregue a um sujeito – já morto – de alcunha ‘Índio’ que atirava com as duas mãos a tudo que se movesse em frente à Igreja... Me neguei a apertar a mão do novo evangélico)...
Bandido é bandido...
Bandido sempre será bandido...
Ninguém deve ficar penalizado...
Não tenho um pingo de pena de pessoas que optaram pelo desvio da Lei...
Ah! Sim...
Janaína Lopes Neves continua morando no Rio de Janeiro...
Após o “174” ficou uma semana em Campo Grande (MS, onde nasceu) e retornou ao Rio...
É formada e trabalha com Recursos Humanos...
Se tornou retraída, evita sair à noite...
Fez terapia e acredita que sua mãe falecida estava com ela nos momentos ruins...
A linha “174” já não existe mais...
A empresa trocou o número fatídico do mesmo percurso para “158”...
Janaína pretende publicar os diários onde anotou as lembranças do episódio...
Bruno Barreto estréia nesta semana o filme de ficção “Última Parada 174” e cava vaga para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009...
Janaína fala dos filmes que abordaram o tema:
‘Eu assisti o documentário três vezes e das coisas que mais gostei foram que o José Padilha não fez os reféns como vítimas e criou um paralelo entre a vida de Sandro antes e durante o seqüestro. O filme de Bruno Barreto eu ainda não assisti”...
Depois eu falo do filme do Barreto...
Fiquei engarrafado no trânsito de um domingo em frente ao Parque Lage na Rua Jardim Botânico aguardando o Bruno Barreto acabar de fazer suas imagens quase a frente do Táxi em Movimento...
Passei a achar o Bruno Barreto um mala...
Tomara que o filme tenha ficado ótimo...
Não gostei nada-nada de ser cerceado do direito de ir e vir...
Jorge Schweitzer
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O senhor se acha tão dono da verdade...e escreve SUPER bem hein ?!(ironia mode on).
ResponderExcluirOutra coisa, o senhor não conseguiu expressar um posicionamento sobre o caso, está "defendendo" Sandro ou os policiais ?
Caso esteja em "defesa" dos policiais, acho estúpido. O senhor conhece a historia de Sandro? Este foi apenas um capítulo do qual ficou marcado na historia do Rio de Janeiro-e quiçá do país- pois defrontamos com a realidade de nossa sociedade, e não aquela realidade virtual à qual vivemos. Somos nós mesmo que marginalizamos estes meninos, eles são invisíveis, fogem de seus lares e familiares por terem condições degradáveis nesses ambientes e vão para a rua. Na rua, eles não têm oportunidades e nem sonhos, sem dinheiro para comer partem para a droga como forma de se livrar de suas frustações e as condições em que eles vivem. Estão expostos à tudo: frio, fome, abuso e até violência - que se torna um dos meios que eles encontram para gritar à sociedade tudo que estão passando e que não é visto pelos olhos nus da sociedade. Eles não são vagabundos - como são taxados normalmente - vagabundo é quem não quer trabalhar, estes não têm nem a oportunidade de o fazer ! E os que trabalham mesmo assim são violentados, roubados.
Sandro não era um ser agressivo, obviamente estava "entupido" de droga,se ele fosse um monstro como o Brasil o viu, ele teria matado muitos mais naquele ônibus, teria feito justiça com as próprias mãos e outra chacina (uma da qual ele sobreviveu: DA CANDELÁRIA). NÓS IMPOMOS ISSO Á ELES ! Ao não dar uma oportunidade de emprego, escola e até mesmo amor. Sandro não tinha amor, perdeu a mãe logo criança e não tinha mais ninguém no mundo por ele.
Então antes de escrever em seu notebook de ultima geração, em sua cadeira confortavel de TOP de linha, procure conhecer melhor a realidade. Procure pesquisar melhor antes de escrever muitos de seus artigos, pelo que vi por aqui são apenas "achismo" de sua parte !
Fora o total egoismo de sua parte quando diz que "não gostou nada de ser cercado do direito de ir e vir", isso é cinema meu caro, é cultura ! coisa que sinceramente eu não creio que o senhor tenha.