Eloá e Lindenberg... Eduardo e Mônica...

A longa letra HQ do Legião Urbana consume 10 longos minutos cansativos...

O seqüestro de Santo André durou 100 horas intermináveis...

Anteontem uma senhora entrou em meu Táxi em Movimento contanto uma história que me parecia fantasiosa...

Seria assim:

‘O pai da menina Eloá, assassinada por Lindenberg em Santo André, seria um criminoso procurado no Nordeste após matar o irmão do governador do Estado de Alagoas’...

Como escuto tudo quanto é tipo de versão maluca no Táxi, nem dei ouvidos...

Difícil imaginar que uma semana de seqüestro e execução de Eloá não fosse o bastante...

Não era...

Pelo rádio a confirmação sobre o pai de Eloá...

Esta tragédia dá um roteiro e meio hollywoodiano...

Vejam só...

O assassino Lindenberg tinha quatro irmãos, cada um de um pai diferente...

Trabalhava durante o dia e à noite entregava pizzas com sua moto...

No intervalo, entre um emprego e outro, apanhava a mãezinha querida no trabalho e a deixava em casa em segurança...

Parêntesis: já notaram como todo facínora tem fixação materna?

Pôs bueno...

A vítima, Eloá, é filha de um homem procurado por haver matado o Secretário de Segurança de Alagoas...

A vítima e o bandido namoravam há quatro anos...

Ele com 19, ela com 12 anos de idade quando foi permitido namorarem..

Viviam brigando...

Lindenberg pediu para acabar o namoro com Eloá...

Eloá achou ótimo se livrar de uma mala dessas...

Lindenberg se arrependeu...

Tentou refazer o relacionamento durante a semana...

Ficou borocoxó...

Eloá estava cansada de brigas...

Passou a rastreá-la...

Lindenberg resolveu se transformar no “príncipe do gueto”...

Resolveu mostrar poder...

Quando Lindenberg invadiu o apartamento, armado com um revólver 32 e os bolsos cheios de munição, sua primeira providência foi dar um tiro no computador de Eloá...

Sua revolta foi detonada após Eloá haver adicionado um menino chamado Felipe em seu Orkut...

Exigiu, com a arma engatilhada, verificar o celular da ex-namorada e descobriu recado de outro menino que ele suponha ser o novo namorado...

Virou um corno incontrolável...

Ligou para o número e se identificou como irmão de Eloá dando ‘boa vindas’ ao novo ‘cunhado’...

Eloá gritava para que o menino do outro lado da linha ouvisse que era armação...

Lindenberg deu-lhe um tapa violento no rosto, puxou seu cabelo e chutou suas pernas...

Foi até a janela e atirou contra soldados da Polícia Militar para mostrar que não estava brincando...

A partir dali começava o inferno dentro do apartamento...

Vasculhando o imóvel, Lindenberg descobriu uma espingarda do pai de Eloá...

Tentou manuseá-la...

Acidentalmente deu um tiro no teto da sala...

Era uma arma de profissional...

Espingarda de repetição, com câmara, ferrolho e pente de balas é de difícil manuseio para leigos...

Lindenberg não mais tocou no equipamento...

O dono da arma era uma pessoa incomum...

Nenhum cidadão de bem possui armamento de guerra...

O pai de Eloá...

Everaldo Pereira do Santos...

Utiliza nome falso...

Acusado de pertencer a um grupo denominado ‘Gangue da Farda’...

Everaldo era conhecido como “Amarelo” e sua troupe bandida se encarregava de achacar, matar, roubar e amedrontar usando farda e armamento do poder constituído...

Evidências lhe apontam como matador de Ricardo Lessa, irmão do governador Ronaldo Lessa...

Foi identificado após aparecer na TV sendo atendido por passar mal no local do calvário de sua filha Eloá...

Foi traído e recapturado pela tragédia...

Uma história sem fim...

Agora...

Por quê um pai que conhece o submundo bandido permitiu que sua filha de 12 anos se envolvesse com um adulto de 19 que ele poderia facilmente identificar como desequilibrado?

Certa vez ao conversar com um soldado do Bope no quartel no final da Rua Pereira da Silva (narrei aqui no Táxi em Movimento este bate papo, que não foi permitido filmar) ele me assegurou que consegue farejar bandido como gato sente que tem rato por perto...

Seguindo este raciocínio...

Por quê Everaldo, o pai de Eloá, não estraçalhou os miolos do Lindenberg quando o viu importunando sua filha?

Seria mais um...

Deveriam colocar ambos na mesma cela...




Jorge Schweitzer

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