quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Acabo de receber a notícia da morte do amigo Cel. Luiz Gonzaga de Moura






Hoje recebí a notícia do falecimento do meu amigo e herói Cel. Moura...


Estas horas são difíceis...


Nosso mundo fica menor...


Mais tarde falo do Cel. Moura...


Abaixo a reprodução de um post do dia 12 de julho passado...


Que o amigo descanse em paz...



Jorge Schweitzer









Um texto, um amigo, várias emoções...


Semanas atrás escrevi um texto e enviei para todas unidades militares do Exército que consegui identificar na Internet...

Descrevia um amigo ilustre, como tão ilustres são todos meus amigos...

Achei que ele poderia ficar chateado com a exposição...

Postei por aqui...

Depois disto nos encontramos algumas vezes e nos falamos por telefone comentando sobre o que ele encontra publicado com meu nome abaixo em jornais...

O amigo não navega pela Internet e só me encontra quando impresso...

Um neto seu já havia visto o alfarrábio e me apertou o braço sem comentar a me olhar em silêncio...

Somente ontem tive coragem de imprimir o texto e deixar na portaria de seu prédio no Leme dentro de um envelope branco...

Minutos depois o Coronel Moura ligou para meu celular...

Ao ver sua identificação no telefone achei que seria repreendido...

Que nada, ele estava emocionado...

Muito...

Indevidamente...

Ele merece cada sílaba...

A intenção foi registrar o quanto somos carentes de pessoas incomuns...

Coronel Moura me alertou, brincando (prefiro acreditar) que eu deveria tomar cuidado em proporcionar emoção tão forte em pessoa com a sua idade...

Cel. Moura tem 88 anos, mas no meu imaginário tem todas idades de meus ideais...

Escutei sua narrativa ao receber meu impresso:

Ele sentou solitário em sua poltrona para ler o que eu havia escrito...

Não tenho idéia de sua reação, mas – conforme me narrou - tentou reler e as duas folhas foram tomadas de suas mãos para serem xerocadas pela família e quando me ligou ainda reclamava de não ter tido oportunidade de saborear novamente o texto...

Ao imaginar a cena fiquei encabulado...

Um texto fazendo parte de um dia-a-dia do amigo...

Como escrevo sem editar, ao rever encontrei vários erros...

Paciência...

Coronel Moura me alertou que corri risco de ser preso ao enviar mensagem a militares...

Que nada...

Temos obrigação de deixar registrado que existem brasileiros com direito à toda dimensão do tamanho de sua história...

Me emocionei com a emoção deste amigo...

Abaixo meu texto que ele merece reler sem que a família evite:



Dos poucos homens que admiro nesta Pátria...



O Brasil possui raros heróis...

Os poucos que têm acabam sendo desrespeitados...

O Cel. Luiz Gonzaga de Moura, hoje com 88 anos, esteve na frente de batalha da Segunda Guerra Mundial...

Comandou pelotão de reconhecimento na Itália...

Registros publicados de depoimentos de seus comandados descrevem inteligência, bravura e senso de companheirismo protegendo os que fraquejavam e se expondo a mais riscos do que os subalternos...

Um homem na acepção da palavra...

Um herói incomum...

Tenho imensa admiração pelo Cel. Moura...

Nos tornamos amigos há quatro anos...

Já tive o privilégio de passar alguns dias inteiros rindo de minhas piadas sem graça e das que ele decorou do livro, que recomendei, ‘as 1001 melhores anedotas brasileiras’ ou título que o valha...

Fiz imagens do Museu da FEB na Rua das Marrecas (está no YouTube) e mostrei um estojo e fuzil doados pelo Cel Moura que estão lá expostos...

A foto em que apareço acima, que está na Internet, foi feita pelo meu amigo em seu ex-sítio em Cachoeiras de Macacú...

Discordamos em alguns pontos, mas mantemos esperança que nossa Pátria deva ser comandada por pessoas de princípios...

A cada vez que alguma opinião minha era reproduzida no Jornal do Brasil ele ligava em meu celular para comentar...

Na noite que morreu Leonel de Moura Brizola aqui próximo de casa, no Hospital São Lucas, conversamos sobre o caudilho que eu admirava e ele tinha reservas mas compreendia que era um homem coerente...

Pôs bueno...

Ontem conduzi o Cel. Moura e sua esposa até o Hospital do Exército em Benfica...

Ficou esperando intermináveis horas...

Após identificação na portaria teve o dissabor de ser inquirido se realmente era militar por um jovem que deveria lhe bater continência...

Teve que cruzar intermináveis e longos corredores...

Foi despachado para vários setores que finalmente lhe providenciaram o veredicto após sacrifício burocrático: não tem direito ao tratamento específico da forma que é solicitada por seu médico...

Fiquei indignado...

Mas não lhe falei nada...

Possivelmente ele não irá aprovar eu narrar por aqui...

Desculpa...

Evidente, ele irá fazer o tratamento com seus recursos pessoais...

Prefiro acreditar que houve equívoco e não falta de respeito pelos poucos homens que ainda temos o privilégio de conviver...

Mas o que mais chateou foi a perda do velho boné do Cel Moura que acabou esquecido em uma das poltronas do HCE...

Espero que a Inteligência do Exército localize seu objeto de estimação e devolva junto com penhoradas desculpas pela falta de consideração pelos serviços prestados...

Grato...



Jorge Schweitzer



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