Dia desses conheci uma moça...
Confessou que iria me contar uma história triste...
No meio da narrativa sua voz quase sumia de emoção...
Seu menino, ainda bebê, foi vítima de erro médico...
Ou algo, que a tragédia inclui - pelo menos - descaso...
A criança tinha menos de um ano...
Começou a passar mal durante seu batizado...
Foi levado à um hospital ainda com a roupa de batismo...
A médica que o atendeu receitou adrenalina...
Leigo, eu só tinha conhecimento que adrenalina é ministrada em casos extremos em adultos como presenciei no filme Pult Fiction...
Lembro sempre de polaramine para reverter casos de alergia...
Que nada, adrenalina faz parte da composição natural de todos nós e some do organismo instantes após injetada...
A injeção deveria ser aplicada subcutânea...
O medicamento não estava disponível na farmácia...
A criança sempre foi alimentada com leite materno...
O menino sempre teve acompanhamento médico desde quando estava na barriga da mãe...
Naquele dia a criança experimentou um pedaço de laranja...
Apareceu reação alérgica...
Ninguém sequer tinha certeza da razão...
No hospital, o menino ficou no soro enquanto aguardava a tal adrenalina...
Adrenalina somente chegou três horas depois...
Ao invés de subcutânea foi aplicada no músculo...
O menino ficou arrocheado...
Começou a ter convulsões...
A partir daí a tragédia adentrou uma montanha russa...
O hospital não tinha CTI disponível...
Os pais tinham plano de saúde que não foi aceito por estarem fora do domicílio...
Uma ambulância foi solicitada, a burocracia hospitalar tratou de informar que o custo era alto para deslocamento para um hospital público...
Concordaram...
No hospital público a moça foi tratada como uma intrusa madame por estar com roupas brancas bordadas confeccionadas para o batizado...
Ao pedir ajuda para que alguma enfermeira ajudasse a segurar o soro, quando suas forças já não aguentavam teve o dissabor de olhares esguios sugerindo um 'se vira, dondoca'...
O preconceito em sentido contrário como numa batalha de vingança de classes muito além da vida...
A mãe só queria salvar seu bebê...
Vinicius morreu...
A médica está sendo processada, o hospital também...
A mãe só quer saber onde ocorreu o erro para que outras tragédias idênticas sejam interceptadas...
O caso rola na Justiça há quatro anos...
O advogado jura que todos serão punidos...
Não sabe quando...
A mãe possui toda documentação de atendimento, prontuário, receituário, tudo...
Se sente abandonada no meio da dor...
Tem que criar seus outros dois filhos pequenos...
Procura, sozinha, ainda ter alguma esperança de Justiça para sarar seu sofrimento...
Muitos lhe afirmam serem solidários num discurso útil, como um apropriado acalanto sem fim...
Aos poucos, cada um foi tratar do seu cotidiano...
Ela já não acredita em mais nada, em ninguém...
Pedi que me enviasse toda documentação para expor na Rede...
Este encontro aconteceu as 19h e 30min do dia 20 de março de 2014...
Uma hora antes de eu receber a notícia que o assassino de uma menina foi condenado à 37 anos de cadeia...
Sempre é possível acreditar...
Até que chegue o fim...
Se não aconteceu, é porque ainda não é o final...
Engraçado, acho que isto é um lógica do mala do Fernando Pessoa...
Vou tentar melhorar para explicar a razão do meu blog oferecer, absolutamente de graça, solidariedade que alguns possam desacreditar como sentimento natural sem fins lucrativos:
Tudo vale a pena...
Quando a alma não é pequena...
Ih, acho que é da mesma lavra do tal chato e agnóstico Pessoa...
Prometi encerrar minha participação na Internet a atropelar versões ocultas...
Retornando a compor somente versos de amor...
Acho que não vai ser possível...
Enquanto alguém procurar um abraço aberto...
Jamais cruzarei os braços...
Fazer o quê?!
Jorge Schweitzer
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