quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Jandira Magdalena dos Santos Cruz, de 27 anos, desaparecida no RJ








 Cartão de visitas pode levar à suspeita pelo desaparecimento de mulher que foi realizar aborto

Rosemere Aparecida Ferreira, a Rose, cujo nome aparece no cartão da clínica de aborto que atendeu a auxiliar administrativa Jandira Magdalena dos Santos Cruz, desaparecida



 

Breno Boechat


A foto de um cartão de visitas, encontrada no celular da auxiliar administrativa Jandira Magdalena dos Santos Cruz, de 27 anos, pode levar a polícia à mulher que acompanhou a jovem para fazer o aborto de uma gravidez de três meses e duas semanas. Na imagem, é possível ver telefones de uma clínica ginecológica e um apelido, ao lado de um dos números: “Rose”. A jovem desapareceu na terça-feira da semana passada, depois de entrar no carro da suspeita, com outras três mulheres, na Rodoviária de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, como revelou nesta quarta-feira a rádio CBN.

O EXTRA levantou que dois dos números contidos no papel pertencem a Rosemere Aparecida Ferreira, de 47 anos, que nos últimos quatro anos foi presa quatro vezes em flagrante pelo crime de aborto em terceiros. Em 25 de fevereiro deste ano, o desembargador Antonio Eduardo Duarte, da Quarta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, decretou a prisão preventiva dela e de outras duas pessoas, acusadas pelo Ministério Público de formar uma quadrilha especializada na prática de aborto.

Segundo a denúncia oferecida pelo MP, o grupo “tem um estabelecimento apropriado para as intervenções cirúrgicas (clínica), grande quantidade de remédios e até mesmo um automóvel, para conduzir as mulheres interessadas ao local em que praticavam os crimes”.



Para realizar o procedimento cirúrgico, Jandira procurou uma amiga, que conhecia outra mulher que já havia sido atendida por Rose. O contato com a responsável pela clínica foi todo feito por telefone. A mãe de Jandira, Maria Ângela dos Santos, conta que tentou convencer a filha a desistir da ideia de abortar a gravidez, mas não conseguiu. Religiosa, ela espera que as pistas ajudem a encontrar a jovem, que tem outras duas filhas, de 9 e 12 anos.

— Só pode ser coisa de Deus esse celular ter ficado aqui. Disse para ela só levar o rádio, porque poderiam dar algo para ela dormir e roubar o telefone — conta, emocionada, a mãe.

O caso está sendo investigado pela 35ª DP (Campo Grande). O EXTRA entrou em contato com todos os telefones registrados no nome de Rosemere, mas nenhuma das ligações foi atendida.

Suspeita age por telefone e evita dar detalhes do aborto. Entenda o caso:

No dia marcado para a cirurgia, Jandira foi levada pelo ex-marido, Leandro Brito Reis, para a Rodoviária de Campo Grande, conforme combinado com Rose. De acordo com a mãe da jovem, a suspeita não quis revelar o endereço da clínica, por se tratar de uma prática ilegal.

— Ela disse que não poderia passar o local da clínica e mandou ela ir até a rodoviária, às 9h. O Leandro foi com ela. Por volta de 10h40, eu liguei e disse: ‘Jandira, volta, não faz isso”. Ela me disse que estava decidida. Pouco tempo depois eu liguei de novo e o telefone dela estava desligado. Falei com o Leandro e ele disse que a Rose mandou todas as mulheres desligarem os celulares quando entraram no carro — conta Maria Ângela.

O carro usado por Rose, segundo o ex-marido de Jandira, era um Gol branco, de quatro portas e bem antigo. A placa, de acordo com ele, estava danificada e não era possível entender o que estava escrito. Poucas horas depois, ainda na rodoviária, Leandro encontrou uma das mulheres que estavam no carro, que disse que Jandira ainda estava na clínica. Depois disso, a família não teve mais nenhuma informação sobre o paradeiro da jovem.

— A tal doutora disse que em cerca de duas horas ela estaria de volta. O Leandro ficou mais de seis horas na rodoviária e ela não apareceu. O telefone só dava desligado. Desde esse dia eu não tenho notícia da minha filha — lamenta a mãe.

Segundo denúncia oferecida pelo Ministério Público, no ano passado, a prática era comumente usada por Rosemere, que “além de proprietária do estabelecimento onde funcionava a clínica de aborto, liderava e organizava a prática delituosa desempenhada pela quadrilha, mantendo contato telefônico e/ou pessoal com as gestantes, negociando os preços, agendando os horários das intervenções cirúrgicas, indicando o local de encontro para encaminhamento à clínica, fazendo a triagem das pacientes, recebendo os valores referentes ao serviço, distribuindo o lucro entre os quadrilheiros, além de atuar diretamente nos procedimentos abortivos, exercendo função de enfermeira”.





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