sábado, 22 de fevereiro de 2014

Advogado Michel Salim Saud é solto






Acusado de matar parentes de estilista Beto Neves deixa a cadeia 

Por falta de cela especial para advogado, réu ganha direito a esperar julgamento em casa 


VERA ARAÚJO 


RIO - A falta de uma “sala de Estado-Maior”, uma espécie de cela especial com conforto e segurança, preferencialmente em unidade militar, fez com que a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio concedesse habeas corpus ao empresário e advogado Michel Salim Saud. 

Acusado de ser o mandante das mortes de Linete Neves e Manuella Neves, mãe e sobrinha do estilista Beto Neves, da grife Complexo B, além do noivo da jovem, Rafany Pinheiros, em São Gonçalo, em agosto do ano passado, Salim agora aguarda o julgamento em casa. 

O desembargador Antônio Carlos Nascimento Amado, relator do habeas corpus, concedeu a prisão domiciliar ao réu, ex-padrasto de Manuella, e determinou que ele usasse tornozeleira eletrônica. 

A Secretaria estadual de Administração Penitenciária informou que foi informada da decisão ontem e explicou que não dispõe da “sala de Estado-Maior” — termo usado na decisão judicial —, pois ela só existe em quartéis. 

Pelo Facebook, o estilista fez um desabafo em forma de protesto: “Hoje eu deveria ir para a porta da prisão e gritar por toda a injustiça que estão fazendo com o caso da morte dos meus familiares. Mas acordei me sentindo traído, decepcionado com o país e suas leis. Acordei pedindo a Deus e todos os meus protetores que me fizessem chegar somente até o fim do dia. Amanhã é outro dia” 

O crime aconteceu na casa das vítimas, em São Gonçalo. 

De acordo com a decisão tomada pelo desembargador Antônio Amado, no último dia 18, a prisão domiciliar foi concedida porque foi ultrapassado o prazo de 30 dias para que a unidade onde Salim estava (no complexo penitenciário de Gericinó) se adequasse para receber o preso, o que não aconteceu. 

Pela lei 8.906/94, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o advogado preso preventivamente tem o direito de ser recolhido em sala especial. 

Na falta dela, a prisão deve ser cumprida em regime domiciliar. 

O entendimento foi reforçado em maio do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal. 

O ministro Ricardo Lewandowski concedeu liminar nesse sentido, numa ação ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. 

Benefício é previsto em lei 

Segundo Amado, a prisão domiciliar “não permitirá que o paciente se afaste espontaneamente” do local que indicou como residência, já que haverá monitoramento eletrônico. 

Duas semanas antes, o desembargador já havia assinado um despacho em que entendia que, por ser advogado, o acusado deveria ficar num local que oferecesse “instalações e condições condignas, preferencialmente em um alojamento militar do Exército”. 

Por conta disso, foi dado um prazo para que tal lugar fosse providenciado, o que não ocorreu. 

Ao explicar o Estatuto da Advocacia, o criminalista Técio Lins e Silva ressaltou que o objetivo da lei é assegurar que, antes da condenação definitiva, o advogado tenha direito a uma prisão especial — no caso, a “sala de Estado-Maior”. — Antigamente as pessoas ficavam presas no Regimento Escola Marechal Caetano de Faria, na Frei Caneca. Era uma prisão que não tinha grades. Depois, surgiu o Ponto Zero, em Benfica. Era uma prisão criada pelo estado para advogados e diplomados no ensino superior. Hoje, a prisão especial é Bangu 8, no complexo de Gericinó, onde não ficam os detentos condenados. Lá, eles não ficam misturados com os presos comuns. Pela letra da lei, Bangu 8 não é a “sala de Estado-Maior”. 

É uma questão de interpretação. 

O advogado tem essa prerrogativa prevista em lei — explicou Lins e Silva.



PS: Agora, como é que a sociedade faz para se resguardar contra este tipo de afronta? Se o Judiciário se presta sempre a interpretar a Lei somente pelo viés conveniente aos apadrinhados do Poder, o que mais nos resta fazer? Confesso que esta cansativa repetição de testar a paciência da sociedade têm sérias possibilidades de abrir-se a possibilidade de criação informal de brigadas de justiceiros... Quando começar a aparecer cadáver de bandido solto pela ineficácia em mantê-lo preso certamente os próprios pedirão para ficarem acautelados pelo Estado como proteção... Enquanto isto... JS





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