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G1 - O sr. está com medo?
Testemunha - Quem fez esse crime tem dinheiro. Você se identificou ao entrar aqui, mas e se eu estou de costas trabalhando e chega alguém aí e diz: 'É você mesmo'. E atira em mim ou me mata? Basta pagar uma mixaria para qualquer um fazer isso. Tonto ele [criminoso] não é. Deve ter algum dinheiro para ter feito uma maldade dessa.
G1 - Acha que o criminoso pode tentar procurar o sr.?
Testemunha - Você é estudado, eu sei. Mas eu também estudei um pouquinho. Mesmo que o réu saia do júri, ele pode pôr alguém para ver quem entrou e falar para o acusado é o ‘fulano de tal’ [até o final da noite de terça, a testemunha afirmou não ter sofrido qualquer tipo de ameaça.
G1 - O sr. parece estar mesmo preocupado com o fato de ser a principal testemunha.
Testemunha - Quando a gente ajuda acaba se prejudicando. Minha mulher está internada de nervoso depois que soube que eu tinha visto o carro da mulher que morreu na represa.
G1 - A polícia tomou algumas medidas de segurança em relação ao sr.?
Testemunha - É proibido divulgar meu nome. Eu falei com eles [policiais] se eu tivesse essa garantia deles. Fui lá, assinei um bando de coisas, mas o doutor [delegado Antônio] Olim [do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] me deixou à vontade para falar tudo o que vi. Ninguém me forçou a fazer nada. O que eu contei no depoimento é verdade. É o que eu vi. Estou com receio, mas vou continuar a minha vida, trabalhando.
G1 - O sr. pode contar o que viu naquele domingo?
Testemunha - Foi no meio do dia, já depois do almoço, o horário em que eu cheguei [na represa]. Parei meu carro, armei o banquinho, sentei, preparei as varas. Parei lá. Aí escureceu, né? Geralmente vou pescar com minha esposa, e às vezes com meu filho, mas nesse dia fui sozinho e tinha sido a primeira vez em que eu fui pescar naquele trecho. É bom pescar à noite porque tem menos barulho e dá para pegar mais peixes. De dia há muitos banhistas. Quando foi umas 19h30 desceu um carro de farol aceso. Aí parou na ladeira, desligou o farol e deixou a lanterna acesa.
G1 - Em depoimento, o sr. disse ter visto um homem.
Testemunha - O homem saiu do lado do motorista, deu a volta por trás do carro. Na hora em que ele saiu, eu ouvi gritos. Antes de jogar a vara, aí quando olhei, ouvi dois gritos. Aí, ouvi o barulho da água. Vi só a lanterna acesa debaixo da água
G1 - O sr. o viu empurrar o veículo?
Testemunha - Eu não vi o cara empurrando. Aí eu não vi. Ouvi o barulho do carro entrando e vi a lanterninha afundando. Estava acesa e foi afundando, está entendendo?
G1 - Viu o rosto do homem?
Testemunha - Não posso falar que eu vi a cara do homem porque eu não vi. Não sei quem é. Só sei que o cara era homem e era mais alto que o teto do carro.
G1 - Depois disso, o que aconteceu? O sr. pensou em denunciar o que viu?
Testemunha - Não liguei para ninguém. Quem ligou para a família [de Mércia] foi o cabeleireiro. Eu vi a matéria do caso na TV quando estava cortando o cabelo, acho que foi no sábado [dia 29 de maio]. Ele comentou que era um absurdo o sumiço da advogada, a TV mostrou o carro dela. Aí eu falei para ele que tinha visto algo estranho no domingo do dia 23. Falei que fui para a represa e à noite em tal hora chegou um carro parecido lá e caiu na água e não vi mais o carro.
G1 - Mas o sr. ajudou a família de Mércia a mostrar onde tinha visto o carro entrar na represa, não?
Testemunha - Foi assim: O cabeleireiro ligou para o 181 [Disque Denúncia]. Acho que foi do orelhão, mas não deu em nada e não deram importância [o Disque Denúncia, no entanto, diz não ter recebido tal ligação]. Aí, ele foi na casa do homem [pai de Mércia]. Depois, veio aqui com o pai da mulher que estava sumida e mais três pessoas da família. Aí fui com eles para a represa e mostrei mais ou menos onde era. Mais ou menos porque eu não tinha certeza.
G1 - O sr. consegue fazer um reconhecimento, identificar o homem que viu sair do carro da advogada?
Testemunha - Não. Eu não prestei atenção no carro e no homem porque achei que estava descendo um pescador, né?
G1 - O sr. pretende voltar a pescar naquela represa?
Testemunha - Vou continuar pescando, mas em outro lugar, em algum pesqueiro, em um lago. Minha única certeza é que não volto mais a pescar lá. Nunca mais quero voltar para aquela represa.
matéria de Kleber Thomaz - G1 SP
quarta-feira, 16 de junho de 2010
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Mais um caso de advogada desaparecida.
ResponderExcluirA advogada de 34 anos, Patrícia Marieve da Silva Barbosa, está desaparecida a um mês e meio e a polícia está investigando. Os pais da moça disseram que a viram pela última vez no dia 5 de maio e acharam estranho seu sumiço, pois a mãe de Patrícia disse que ela não era de muitos amigos, sempre foi mais caseira. A advogada morava sozinha a mais ou menos três anos e trabalhava em seu apartamento na região central da cidade de São Paulo, fazendo trabalhos acadêmicos por encomenda para estudantes e professores. Vamos aguardar e rezar para que este caso não tenha o mesmo fim que o da outra advogada encontrada morta, Mércia Nakashima. O mesmo delegado que investiga o caso de Mércia está investigando o de Patrícia.