Foi necessário...
Tive que acompanhar o reconhecimento de um corpo no necrotério na semana passada...
É muito difícil ver alguém falecido que você conheceu em vida...
O corpo está ali mas parece que o invólucro está vazio...
Tudo o que foi já partiu...
A minha falta de religiosidade angustia nestas horas...
Se professasse alguma fé talvez administrar estes momentos seria mais leve...
Mãos, pés e queixo presos por gases e chumaços de algodão nas narinas...
Acompanho o corpo ser vestido com respeito...
Pergunto ao funcionário da funerária se minha presença incomoda...
Me é permitido permanecer no local até o final...
Recolho as roupas que vestia quando foi internado dentro de uma bolsa plástica...
Ele era bem cuidado; sua pólo, bermuda e chinelos são muito novos...
Peço que doe para alguém que necessite...
Seu filho lhe dá um abraço e um recado em voz alta que enche a sala na despedida...
Não escondo as lágrimas que teimam desmoronar a falsa fortaleza treinada para amainar desesperança...
Relembro os últimos meses em que acompanhamos o amigo em todas etapas em busca da cura...
Nossas longas conversas finais em que me confiou histórias de sua trajetória como um desabafo...
Tudo que foi possível foi tentado para justificar sua luta...
Confiou nos amigos e familiares que estiveram juntos até o final...
Sua presença ainda permanece como um halo bom confortando a perda...
O último capítulo antes do livro fechado foi escrito com coragem incomum...
Descanse em paz!
Jorge Schweitzer
Isso mesmo!!!
ResponderExcluirAbraços n corpo inerte querendo de novo o calor que vai com a vida
Ultima estada privada
A próxima será pública e já não te pertence o grande amor da sua vida