Dia desses peguei uma passageira gaúcha, de férias no Rio de Janeiro, em meu táxi a caminho da Zona Sul...
Fomos conversando e me contou que trabalha no Colégio Salesiano Dom Bosco de Porto Alegre...
Pois é, estudei no Colégio Dom Bosco da Rua Dr. Eduardo Chartier 360 e morava na mesma rua numa casa no número 1097, lá acima, perto de onde hoje é o Super Mercado Zaffari...
Minha antiga casa já não existe mais, assim como todas em volta...
Onde é o Zaffari era um conjunto de seis chalés de madeiras colados uns nos outros e com pequeno terreno na frente e atrás das casas...
Engraçado, acho que ninguém deve lembrar mais que o Dom Bosco se chamava Casa do Pequeno Operário com muitos alunos bolsistas com obrigação de não serem reprovados...
Era comum também chamarmos o Dom Bosco apenas de CPO naqueles longínquos anos 60...
A moça no táxi comenta que a gráfica era utilizada para trabalho dos menores, o que não era verdade...
Eu lembro de trabalhar por lá nas férias e recebia remuneração pelas horas trabalhadas...
Na gráfica trabalhavam somente adultos profissionais pelo perigo de manusear as máquinas...
Na entrada ficava uma grande linotipo com um velhinho de boné dedilhando e um cadeirão ao lado para desmanchar o chumbo de placas inutilizadas; no fundo um mundaréu de barulheira de impressoras de antigamente...
Lembro que produziam cartazes e caixas de biotônico Fontoura...
Na frente da gráfica ficava uma marcenaria onde só tínhamos acesso para aprendermos a manusear arco de serra onde cortávamos folhas de compensado em forma de peixe para confecção de apoio de pratos...
Estive olhando fotos atuais do Colégio Dom Bosco e fica difícil localizar onde se localizavam os dormitórios que já devem mais existir...
Estudávamos praticamente o dia inteiro com intervalos para esportes...
Acordávamos cedo para assistir missa ainda em jejum para podermos comungar; aos domingos, outra missa logo após o café...
Na época, o Concílio Vaticano Segundo instituiu a missa em português mas muitos padres ainda rezavam em latim...
Eu era um dos poucos que ainda sabia 'ajudar' missa em latim o que me trazia um certo diferencial para sempre ser escalado para estes eventos...
Ser sacristão nos dava o privilégio de arrumar os paramentos (cada dia tinha uma cor) e ter acesso escondido àquelas hóstias grandes que eu quebrava ao meio imitando o padre e dar uma golada no vinho...
Só ficava assombrado em missa com corpo presente com o caixão logo atrás de onde eu ficava ajoelhado na escadaria do altar mor tocando aquele imenso sino e balançar o turíbulo com incenso em volta do defunto...
Tenho lembranças boas do recreio da noite onde jogávamos futebol no pórtico central com pouca iluminação e de dois padres velhinhos que ficavam por entre as colunas da entrada principal contando histórias...
Um deles era o Padre 'Bonzinho' que se não me engano se chamava Ângelo...
Padre 'Bonzinho' tinha sempre nos bolsos muitas balas que distribuía depois de falar sobre histórias da guerra que passou na Polônia...
Certa vez Padre 'Bonzinho' sumiu e diziam que ele tinha morrido e ressuscitado durante seu velório ali mesmo no Dom Bosco...
Padre 'Bonzinho' passou a mancar de uma perna e tinha mania de correr atrás dos alunos quando algum não lhe chamava pelo nome...
E, também tinha o Padre Máximo, que agora no site do Dom Bosco descobri que na realidade se chamava José Mássimi...
Padre Máximo nos contava histórias saborosas de como conseguiu o terreno para construir o Colégio e das quermesses que organizava para angariar fundos para a obra...
Nos mostrava cada ala descrevendo quem o ajudou concretizar seu sonho...
Padre Máximo era nosso herói cultuado como um símbolo por todos padres do Dom Bosco...
Padre Máximo dizia sonhar com uma creche que até chegou a ser montada e administrada por freiras...
Quando sai do Dom Bosco Padre Máximo ainda estava vivo mas já não descia para o pátio em razão da idade...
O obra do Padre Máximo mesmo para época era grandiosa com um amplo cinema muito maior que a maioria de hoje em dia; oficinas; dois campos de futebol; quadras de esportes...
Na entrada do Colégio existia uma placa enorme com a inscrição 'Casa do Pequeno Operário' que foi substituída por Colégio Salesiano Dom Bosco já que o ensino se tornou artigo de luxo e nada melhor do que um nome pomposo que reflita a nova era...
Não sei se existe, mas deveria existir uma biografia detalhada da trajetória do Padre José Mássimi contando sua saga admirável...
O Colégio Salesiano Dom Bosco só existe porque existiu um Padre salesiano chamado Padre José Mássimi...
Jorge Schweitzer
PS: Curioso que na época a gente reunia o time de futebol e tirava fotos em um gramado em frente ao CPO; não encontrei fotos da época mas alguém deve tê-las guardado... Se possível, me envie para publicarmos por aqui...
Nenhum comentário:
Postar um comentário