Agentes são suspeitos no caso Jandira
Segundo o MP, um deles trabalhava como segurança de clínica onde ela faria aborto
Gabriel Sabóia
Rio - Dois policiais civis estão sendo investigados por suspeita de participação na quadrilha especializada que teria feito um aborto em Jandira Magdalena Cruz, 27 anos, desapareceu no dia 26 de agosto. De acordo com o Ministério Público, Edilson dos Santos, que já havia tido prisão decretada em fevereiro, ainda trabalhava como segurança da clínica clandestina para a qual Jandira se dirigia quando foi vista pela última vez. Já Sheila da Silva Pires, apontada como responsável por atrair clientes, foi presa em junho de 2013 e solta no mês seguinte por decisão judicial.
A expectativa dos parentes de Jandira se concentra agora no exame de DNA que será realizado a pedido da Divisão de Homicídios (DH) durante a semana. Uma amostra de material genético da mãe dela, Maria Magdalena dos Santos, 51, será colhida nos próximos dias. O objetivo é conferir se é de Jandira um corpo encontrado carbonizado, sem os membros e com uma marca de tiro na cabeça, no dia 27, em Guaratiba. Apesar do estado, o corpo da vítima, segundo policiais, tinha as mesmas características físicas da grávida.
“É uma espera angustiante. A todo instante vêm as crises de choro e pânico”,confessou a irmã dela, Joice Magdalena. A matriarca da família, Dona Maria, precisou de atendimento médico ontem.
Uma das hipóteses investigadas pela polícia é a de que Jandira tenha passado mal durante o aborto, mas para despistar a teriam levado para Guaratiba para executá-la com um disparo na cabeça. Apesar de ter menos força na linha investigativa, a execução dela para venda ilegal de órgãos não está descartada pela polícia.
Leandro Brito Reis, ex-marido da grávida - que não é o pai do bebê, mas a acompanhou até o encontro na rodoviária de Campo Grande com Rosemere Dias Ferreira, que a levaria até a clínica —, criticou o serviço de reconhecimento feito pela Polícia Civil. “Me mostraram imagens antigas e desfocadas”, argumentou.
Mudança
Na sexta-feira, ele foi à 35ª DP (Campo Grande) para dizer que não reconhecia Débora Dias Ferreira como a motorista do Gol Branco que teria levado sua ex-esposa. Num primeiro momento, ele havia apontado a mulher como a pessoa que dirigia o veículo. Débora é testemunha do inquérito. Ela responde em liberdade a todas as acusações registradas ano passado, quando foi capturada pela Delegacia a Criança e Adolescente Vítima (DCAV) por praticar aborto em outras pessoas.
Outras três mulheres que também seriam submetidas a abortos teriam a acompanhado no veículo. A presença de dois homens que fizeram questionamentos a ele na rodoviária são suspeitas. “Me questionaram quanto ao local da clínica, mas não sabia responder”, disse Leandro, que acredita em participação dos dois no crime.
Questionada quanto aos rumos da investigação, a assessoria da Polícia Civil se limitou a dizer que “o caso segue sob sigilo para não atrapalhar as investigações”.
Filha ainda não sabe do sumiço
Calma, responsável e religiosa. Assim era definida Jandira Magdalena até descobrir que estava grávida, há três meses. Mãe de outras duas crianças, de 8 e 11 anos, ela foi frequentadora de igrejas evangélicas nos últimos cinco anos, mas se afastou há pouco mais de seis meses. Foi neste período, de acordo com Joice Magdalena, irmã dela, que a gravidez foi descoberta.
“Não conhecemos o rapaz (pai da criança). Sabemos apenas que ele trabalha em outro estado. Foi um caso passageiro, mesmo assim fomos contra o aborto”, disse Joice. A gravidez teria acontecido apesar de o uso contínuo de anticoncepcionais. “Ela estava frágil, se alimentando mal desde que soube que estava esperando um bebê”.
Júlio Cesar Lessa, pai da filha mais velha dela, disse ainda não ter tido coragem de contar à garota sobre sumiço. “Vou esperar o fim das investigações.”
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