.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
2006/agosto/28, 16 horas...
Aperto a campainha com o coração aos pulos sem saber como serei recebido ao tentar explicar que estou ali somente para descrever a cena numa crônica...
De túnica marrom de tecido grosso, cabelos curtos, sorriso sincero, olhar profundo e meigo ela me recebe no portão de uma casa de estilo colonial ao lado do Convento de Santa Teresa...
Seu nome, Daniela...
Enquanto conversamos duas outras meninas, com mesmos paramentos pesados, brincam com passarinho na gaiola suspensa sob uma árvore...
Tenho curiosidade em saber como chegou até ali, a reação da família, se já namorou...
Encontro uma fé inabalável de alguém que desempenha uma missão que crê em toda sua essência...
Convida para conhecer a capela...
Titubeio...
Entro...
É uma casa simples, organizada e clara...
No corredor de longas tábuas corridas e enceradas, tropeço em chinelos espalhados...
Outras meninas sorriem...
Todas estão descalças...
Indago se devo ficar também...
Fico...
Entro na Capela...
Tem quatro metros quadrados...
Duas janelas imensas, nenhuma luz artificial direta...
Na parede um crucifixo de um metro com imagem de Jesus, atrás do altar com toalha alva e, acima, ostensório cor de ouro...
Três lamparinas de velas circundam a cruz a cada lado...
Na parede direita, quadro do Coração de Maria...
Incenso num turíbulo depositado ao chão...
Dois genuflexórios e uma cadeira tipo poltrona...
Três meninas ajoelham-se de cada lado do altar,...
Daniela fica em frente à porta de saída...
A última da esquerda toca violão, depois da ladainha...
Uma melodia que arrepia a emoção...
Cada uma fala de sua vez...
Descrevem o propósito de seguir com a missão...
Da dor do que ficou para trás...
Servindo os ditos "feios, repugnantes, abandonados, chatos"...
Só elas mesmos...
Eu odeio os chatos...
Rituais me cansam...
Suo...
Daniela percebe e liga um ventilador em minha direção...
Mas elas não são sofredoras...
Sabem o que querem...
No meio de orações falam ao ouvido uma das outras e sorriem molecamente...
São alegres...
O cerimonial delas não é cena de sofrimento...
Ninguém aguentaria aquela rotina, aquela vida, se não tivesse fé...
Só fé em toda sua dimensão...
Fiquei fascinado por estas jovens do Instituto de Vida Consagrada Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento - Toca do Assis, ao vê-las aparando cabelos, unhas, cuidando de feridas e conversando carinhosamente com população de rua na Lapa com um sorriso comovente...
Elas tentam esconder a beleza em trajes, adoração e caridade...
Independente de dogmas, são as mulheres mais belas que já conheci...
Jorge Schweitzer
PS: Ontem, estive na Toca do Assis, lembrei desta crônica acima que escrevi há tempos... Deixei lá algumas roupas que já não uso... A moça ficou tão feliz que mal conseguiu me agradecer... Gosto do trabalho destas moças, quem circula pela Lapa e adjacências está acostumado a presenciar... Elas não fazem trabalho de catequismo; só conversam, cortam cabelo, fazem as unhas, cuidam das feridas... Só...
Meu caro irmão
ResponderExcluirNão é toca do... e sim Toca de Assis.
Valeu