Fui criado acreditando numa máxima recitada cansativamente por minha avó com seus olhos negros apontados acima dos óculos de grau ao parar seu ponto agulha do crochê:
‘Depois da chuva vem a bonança’...
Sempre retrucava, numa época em que contrariar adulto era penitenciado com pimenta malagueta na língua e vara de marmelo:
‘Errado, vó:
Depois do Tom & Jerry é que vem o Bonanza’...
Ambas lógicas eram corretíssimas...
Numa época em que a TV redonda engatinhava em preto e branco acima de móveis pés palito ao lado da cristaleira, coberta em dias de relâmpagos “Santa Bárbara, São Jerônimo”...
E a natureza percorria imponente caminho idêntico de quatro estações distintas e tsunâmi era palavrão somente conhecido por tribos aborígenes que narravam lendas sobre imensos deuses devastadores que brotavam dos fundos dos oceanos a engolir a Terra...
Pôs bueno...
Ontem...
Depois de várias semanas de chuvas no Rio de Janeiro veio o sol tímido como uma bonança sem direito a arco íris como antigamente...
Resolvi levar minhas roupas a uma lavanderia e ficar ao lado daquelas máquinas automáticas xaropes esperando o tempo passar observando o rodar interminável de lavagem e secagem...
Procurei uma gostosa para ficar observando disfarçado atrás de uma revista antiga...
Nada...
Parecia uma reunião de terceira idade...
E viados, muitos viados...
Por um instante me imaginei na fila de fãs da Madonna na entrada do Maracanã...
Imaginei que todos solitários do Rio de Janeiro ou são boiolas ou foram abandonados pela família no final de vida...
Lembro de um amigo, igualmente taxista, conhecido como Gaúcho – que na realidade era paranaense mas mantinha imenso orgulho do apelido – que me zoava por haver conseguido casamento com uma passageira rica e idosa...
Quando me apresentou a senhora simplesmente soletrei uma única palavra de três letras: Putz...
Melhor só e duro...
(Qualquer dia conto a história completa e o desfecho do casório)...
Volto ao carro e pego as últimas cinco edições da Veja - abandonadas em minha mala aguardando o lixo - para colocar sobre as revistas antigas da ‘biblioteca’ da loja...
A Veja da Susana Vieira é quase disputada a tapa; a do Fábio Assunção idem...
As outras ficam esquecidas sobre a estante...
Engraçado como somos leitores vorazes consumidores da desgraçada de celebridades...
Paciência, somos assim, até eu já percebi que assuntos populares atraem mais do que falar de filosofia pura e redirecionei meus textos...
Lógico, quero leitores e não escrever para intelectuais que adoram erudição de mentira...
Lavanderias; consultórios dentários; médicos; barbearias and salões de beleza mantém um acervo de notícias caducas e uma imensidão de literatura de autores mexeriqueiros candinhos...
Caras, Quem e Contigo são o best-seller destes ambientes...
Mas é ótimo...
Somente ali tomo um banho de realidade fútil...
É um desfilar de personagens de vidas vazias em performances cenográficas na Ilha de Caras nos mostrando drinques e corpos sem fotoshop cobertos por cangas floridas...
Descubro que a Hebe renovou com o SBT...
Ratinho está deprimido...
Roberto Carlos vai a missa na Urca chorar sua viuvez...
Luciano Huck fotografa Angélica e pimpolhos...
Ôpa...
Esta revista é recente...
É uma Contigo comemorativa dos 45 anos...
Lembra algo...
Não consigo recordar o quê...
Mierda!
Sei que já comentei por aqui...
Procuro página a pagina...
Descubro Reinaldo Gianecchini no meio de um monte de latas de alumínio em página dupla...
Isto...
Achei...
A próxima página central...
Puerra...
Gerald Thomas é um pássaro de imensas asas em fogo na frente uma floresta incandescente...
Não recomendo ninguém comprar o exemplar...
Custa 5,90 reais...
Não vale o conteúdo...
Posso narrar prô cês...
Gerald Thomas faz cara de irado (hahahahaha)...
Tá putzo...
Seu cabelo está tão certinho que seu cabeleireiro megahair deve ter ficado horas disfarçando sua calvície...
Está prostrado sob um tronco imenso num êxtase...
Segura o tronco com ambas mãos...
Coloca somente três dedos na parte anterior do membro caule...
Eu teria uma sugestão melhor para o Gerald Thomas posar utilizando o pau a lhe queimar a rosca empalada pela indignação a salvar a humanidade do desmatamento amazônico...
Pô...
Nem na lavanderia me livro dessas malas...
Reynaldo Gianecchini e Gerald Thomas são um karma...
Jorge Schweitzer
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