domingo, 20 de março de 2016

Escola de Música da URFRJ abandonada e decadente na Rua do Passeio, RJ






Abandono em prédio da Escola de Música da UFRJ ameaça relíquias
Obras manuscritas de Villa-Lobos e Carlos Gomes podem ter estragado.
Acervo de biblioteca da instituição está há um ano sofrendo com poeira.


Nicolás Satriano



Um oásis para a música no Centro do Rio que sobrevive ao descaso. Assim é a atual situação do histórico prédio da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que fica na Rua do Passeio 98, entre a Lapa e a Cinelândia. A edificação resiste ao tempo sem qualquer indício de que está sendo revitalizada. Por falta de recursos para que seja trocada de local, a biblioteca da entidade está fechada e o acervo de obras raríssimas já pode ter sido perdido com as recentes chuvas na cidade.

"É um espaço cultural tão rico, um lugar que precisa ser valorizado. As obras, lustres, tudo tão largado. É um descaso tão grande. Mesmo assim, o lugar é lindo", lamentou a advogada Maria de Lourdes Porcel. Mãe das pequenas alunas de canto Maria Luiza, de 8 anos, e Maria Eduarda, de 4, a advogada acredita que falta empenho dos responsáveis pelo local e interesse do poder público. "Eles poderiam cobrar por visitas guiadas e arrecadar fundos para a instituição", sugeriu a advogada.


Tão ou mais grave que o abandono do prédio principal é a situação da Biblioteca Alberto Nepomuceno, que fica em edificação anexa, nos fundos do terreno. O acervo está há pelo menos um ano coberto com plástico e em condições que ameaçam a integridade de obras inestimáveis para a música brasileira. Lá existem, por exemplo, partituras manuscritas de Carlos Gomes, Villa Lobos, Padre José Maurício Garcia, Francisco Mignone, Rossini  e outros.

A diretora da Escola de Música, Maria José Chevitarese, afirmou que todo o acervo será trocado de local ainda este mês ou, mais tardar, no próximo. O G1 questionou sobre o andamento de projeto de revitalização do prédio principal na Rua do Passeio. A diretora culpou a crise econômica e disse que não havia recursos para que a mudança da biblioteca e revitalização fossem feitas antes.

Servidores federais que trabalham no prédio também se preocupam com a conservação do espaço. Segundo um deles, que não quis se identificar, a maioria dos setores, funcionários, professores e alunos foram para a Torre Ventura [21º andar da Torre Leste do Ventura Corporate Towers, na Av. Chile 330], mas a biblioteca permaneceu no edifício anexo na Rua do Passeio.

"Lá na Torre Ventura tem um espaço para o acervo, mas não há dinheiro para a mudança. Deveria ter sido o primeiro setor a ter ido", criticou o funcionário.
Ainda de acordo com o relato, as obras guardadas na biblioteca estão continuamente expostas à sujeira e poeira. "Os arquivos onde estão as partituras são os mais delicados. Precisam de higienização e climatização específicas. Está tudo fechado e abafado, sem nenhuma ventilação", disse.


Alunos reclamam de falta de ar-condicionado

Na última quinta-feira (17), a Orquestra Sinfônica da UFRJ se apresentou no Salão Leopoldo Miguez para um parco público de aproximadamente 20 pessoas. No repertório, obras de Ernani Aguiar, Vivaldi e Mozart foram tocadas por 33 músicos. Entre eles, alunos da escola que afirmam que o problema com o espaço é de longa data.

"Há muito tempo não tem uma reforma. O ideal mesmo seria um ar-condicionado. Ajudaria, inclusive, a preservar o patrimônio", comentou o trompetista Anderson Medeiros, de 21 anos.

O também trompetista Michael Custódio endossa a opinião do companheiro e repete que as condições atuais da escola não são as ideais. "Não é próprio para se exercer a cultura. A falta do ar-condicionado, além de afastar o público, afeta a afinação dos instrumentos", reclamou o músico.

Michael contou, ainda, que faltam cadeiras adequadas para o ensino da música e que, em geral, os pianos da instituição não estão afinados. Segundo ele, a falta de comunicação entre e reitoria da universidade com a escola prejudica o aprendizado.







Nenhum comentário:

Postar um comentário