terça-feira, 23 de junho de 2015

Segure a respiração e ouça meu coração explodir











Durante uma grande enchente, um homem muito religioso não saia de casa de forma alguma...

Quando a água chegou a seus pés, um senhor numa canoa passou e o convidou para embarcar, e a resposta foi:

- Não, obrigado. Deus vai me salvar.

Quando a áqua já estava na cintura, vieram dois jovens num barco oferecendo ajuda. E a resposta foi a mesma:

- Não quero. Deus vai me salvar.

Quando a água ia chegando no pescoço, passou um helicóptero resgatando as últimas pessoas, e alguém gritou para que o homem subisse na corda para salvar a vida...

E mais uma vez o teimoso respondeu:

- Já disse que não quero. Deus vai me salvar.

Mas a água subiu e o homem se afogou...

Chegou ao céu e foi logo reclamando com Deus:

- Puxa... eu confiava no Senhor. Por que me deixou morrer?

E Deus respondeu:

- Meu filho, mandei-lhe uma canoa, um barco e um helicóptero... O que mais você queria que eu fizesse?

Pois é...

Ainda há pouco estive caminhando durante horas a fio olhando os idosos de Copacabana e lembrei desta piada...

Todos nós imaginamos um happy end maravilhoso para fechar com honra nossa trajetória por aqui...

Alguns da minha idade ainda teimam se agarrar aos últimos resquícios de vitalidade que logo o subjugarão alquebrando este fio de faz de conta...

Ainda vejo velhinhos desfilando com luvas de MMA e garrafinhas d'água na mão a caminho de alguma academia da Nossa Senhora de Copacabana como bobocas cópias ultrapassadas de um Anderson Silva de mentira como em contrapartida as crianças igualmente gostam de se fantasiarem de um Homem Aranha que nunca serão...

Encontrei outro posudo proprietário do último terreno disponível na Rua Santa Clara que deve valer uma fortuna e ele conferia junto com um empregado a mata que se formou e ele cercou cuidadosamente com aqueles arames-navalha tendo como vizinho dois grandes paredões de prédios e a encosta rochosa atrás que vai até lá ao alto do Morro dos Cabritos e muito embora era também irá embora e a família em peso brigará aguerrida por cada metro quadrado tal templários de Cruzada...

Outros já jogaram as fichas ou ainda rodam os dados nas mesas de concreto da Praça Serzedelo Correia até altas horas com holofotes clareando um caminho ranzinza de não voltar pra casa...

Nesta semana soube que um deles perdeu a esposa e comentou que a vida para ele acabou; fiquei mirando ao longe aquele senhor que já não se incomoda quando alguém se coloca atrás peruando seu jogo. Ele pretende vender o apartamento de Copacabana e mudar-se para Vargem Grande onde possui uma casa imensa que lhe servirá de breve  rápido sarcófago...

Ao chegar aos sessenta não tive crise alguma mas resolvi refletir...

Não adianta, o fim inexorável que se avizinha incomoda tanto quem ainda mantém indevida pose altiva ou aos que a distância entre o parapeito da janela e a cama se tornou uma viagem que necessário de ajuda de alguém como meio de locomoção...

Daí...

Pois, daí...

Já caminhando na areia chutando a beira das ondas de espuma a caminho do Marimbás lembrei da tal piada acima...

Quantas vezes a vida me colocou na cara do gol...

Quantas vezes o destinho me posicionou a bola na marca do pênalti...

E...

Chutei pra fora!

Ou...

Me neguei arriscar...

Pois é...

Ainda claudico na frente da grande área com chuveirinho de oportunidades que a vida ainda me apresenta proporcionar uma grande surpresa para todos vocês ficarem de queixo caído...

Tomara que tudo continue conspirando a favor...

Irei deixar amigos perplexos e inimigos indignados...

Enquanto isto...

Estou num dilema como numa Conversa de Botas Batidas do Los Hermanos:

"Deixa o moço bater 
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar
Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem
Diz quem é maior
Que o amor
Me abraça forte agora
Que é chegada a nossa hora
Vem vamos além
Vão dizer
Que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela
Vai cair"


É isto!

Quando tudo acabar muitos terão orgulho do que fizemos por aqui...

Outros nem tanto...

Na realidade, muito tempo depois todos seremos esquecidos...

Alguns levarão mais tempo para ninguém mais perceber que passaram por aqui...

Estes que realizaram algo que você não teve coragem de fazer por isto ele te surpreendeu...

Estes sim, são os que fizeram a diferença...




Jorge Schweitzer





PS: Ah, sim! Esta canção do Marcelo Camelo ele escreveu após a notícia que um motel no centro do RJ desabou ali próximo da Rua da Assembléia e somente um casal de idosos estava em um dos quartos e acabaram mortos soterrados.. Ambos casados; ela era mais velha que ele... Prometo que não vou lhes mostrar nenhuma adversária caquética... Talvez eu vá embora apenas abraçado a esperança...







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