domingo, 2 de maio de 2010

Beijos de uma Noite...

.






texto da blogueira cubana Yaoni Sánchez












Com um pulôver apertado e o cabelo lambuzado de gel, oferece seu corpo por uma noite por somente vinte pesos conversíveis.

Ele mostra as maçãs do rosto salientes e olhos amendoados tão comuns nos que vêem do oriente do país.


Move os braços o tempo todo, com uma mistura de lascívia e inocência que produz pena em certos momentos e em outros, desejo.

Faz parte do vasto grupo de cubanos que ganha a vida com o suor da sua pélvis, que mercadeja seu sexo para estrangeiros e nacionais.

Uma indústria de amor rápido, de carícias curtas que nesta Ilha cresceu consideravelmente nos últimos vinte anos.

Havana tem ares de bordel em certos momentos, sobretudo se se transita pela rua Monte até a interseção com Cienfuegos.

Mulheres jovens com roupas vistosas porém meio pálidas, oferecem sua “mercadoria”, especialmente quando a noite cai e os vestidos não parecem tão frouxos e as olheiras tão cinzas.

São as que não podem competir para conseguir um gerente ou um turista que as leve para um hotel e lhes ofereça - no dia seguinte - um desjejum com leite incluído.

Não usam perfumes de marca e exercem seu trabalho em quartos apertados de uma velha casa ou num patamar de uma escada.

Traficam com gemidos, trocam espasmos por dinheiro.

Estes homens e mulheres - comerciantes do desejo - evitam tropeçar nos uniformizados que vigiam a região.

Cair nas mãos deles pode significar uma noite num calabouço ou a deportação para sua província de origem para os que estão ilegais na cidade.

Tudo pode ser resolvido se o policial percebe a proposta de uma coxa insinuante e aceita trocar a ata de advertência por uns curtos minutos de intimidade.

Alguns agentes da ordem voltarão, assíduamente, para cobrar o seu pedágio - em moeda ou serviços - para permitir que estes seres noturnos continuem postados nas esquinas.

Negar-se a dar pode fazer com que as mulheres terminem numa granja de reeducação de prostitutas e os homens acusados de periculosidade pré-delitiva.

Assim se completa o ciclo de sexo por dinheiro, numa cidade onde o trabalho honrado é uma relíquia de museu e as necessidades levam muitos a apostarem o corpo, a rebolarem na espera de uma oferta.






2 comentários:

  1. olá , um relato que comemora o dia do trabalho na Ilha.
    Como já dizia Paulinho da Viola "hoje eu vi minha nega " qual o resultado de regimes totalitaristas. Abraços.

    ResponderExcluir
  2. da pra imaginar que tipo de 1 de maio teve por la, sé epq ue teve, e quantos comomoraram.

    bom texto, retatando o que aconteçe em muitos lugares do mundo.

    ResponderExcluir