POR QUE AMARILDO FOI LEVADO À UPP
O major Edson Santos diz que Amarildo de Souza, conhecido como Boi, foi levado à sede da Unidade de Polícia Pacificadora no dia 14 de julho porque "parece para caramba" com um homem procurado, cuja foto estava em poder da polícia.
AMEAÇAS
O líder comunitário Carlos Eduardo Barbosa, o Duda, diz ao major que um policial de nome Vital, um dos que levaram Amarildo à UPP, aterroriza moradores e ameaçou Bete, mulher de Amarildo. O major relata que mandou Vital parar "de falar besteira".
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES
O major pergunta se Duda pretende se candidatar a presidente de alguma associação de moradores da Rocinha e pede para o líder comunitário "não trazer ninguém deles", ou seja, receber apoio de traficantes. Noutro trecho da gravação, o major promete apoio.
INTERFERÊNCIA POLÍTICA
O major diz que o deputado estadual e atual secretário estadual de Esportes, André Lazaroni, pediu a sua demissão do comando da UPP ao governador Sérgio Cabral. O deputado tem base eleitoral na Rocinha e apoio de líderes comunitários
A ESCUTA
O major menciona que um traficante, chamado Catatau, foi flagrado em escuta telefônica afirmando que matou Amarildo. Duda diz que a família de Amarildo não acredita nessa versão "porque o bandido está lá e viram que ninguém fez nada contra ele".
BANDIDOS MENTEM
O major diz que traficantes mentem nas escutas telefônicas, mas o oficial dá crédito às ameaças de bandidos. Diz esperar "que o moleque", provavelmente um policial, não esteja envolvido no sumiço de Amarildo. Afirma acreditar num complô de bandidos.
O INFILTRADO
A Unidade de Polícia Pacificadora infiltrou um PM possivelmente chamado Avelar entre os traficantes de drogas na Rocinha. O major pede para o líder comunitário não entregar a identidade do policial aos bandidos.
COMANDANTE LADRÃO
O major diz ao líder comunitário que um policial corrupto, que passasse a comandar a Unidade de Polícia Pacificadora na Rocinha, teria como agir facilmente em extorsões na favela e ficaria milionário.
Comandante de UPP acusa tráfico de sumiço de Amarildo
ÉPOCA obteve gravação de conversa de major com líder comunitário.
Segundo major da PM, traficantes queriam incriminar a polícia
HUDSON CORRÊA
O comandante da UPP da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, o major Edson Santos, ainda não se pronunciou publicamente sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha, em 14 de julho.
Em uma conversa com o líder comunitário Carlos Eduardo Barbosa, conhecido como Duda e próximo à família de Amarildo, o major disse acreditar que o desaparecimento do pedreiro esteja ligado a traficantes da comunidade.
No diálogo, gravado por Duda e obtido com exclusividade por ÉPOCA, Santos afirma que a intenção dos traficantes seria incriminar a Polícia Militar.
Ele cita um bandido de nome Catatau que, segundo ele, admitiu o crime numa escuta telefônica.
Segundo a versão do major, os traficantes teriam motivos para se vingar pois um policial militar se infiltrara entre eles para investigá-los.
Ainda na conversa, Duda reclama de um policial suspeito de agredir moradores.
"Eu mandei ele parar de falar besteiras", diz o major Edson Santos na gravação.
Família pede na Justiça reconhecimento da morte de Amarildo
Apelidado de Boi, por carregar até dois sacos de cimentos nas costas, o pedreiro foi levado por policias militares para averiguação no dia 14 de julho, à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no alto do morro.
Desde então, não foi mais visto.
Três dias após o desaparecimento do pedreiro, o secretário da Segurança Pública, José Mariano Beltrame, reuniu-se com familiares da vítima e prometeu uma investigação rigorosa.
Naquele dia, 17 de julho, o líder comunitário Duda convocou protestos e promoveu o fechamento de avenidas com cartazes com a pergunta: “Onde está o Amarildo?”.
O encontro entre Duda e o comandante da UPP da Rocinha ocorreu no Portão Vermelho, localidade que dá acesso à sede da UPP, depois da promessa feita pelo secretário de Segurança Pública.
Desconfiado da polícia, o líder comunitário gravou meia hora de diálogos sem o policial perceber e entregou o áudio ao advogado João Trancredo, que atua na área de direitos humanos e dá assistência jurídica à família de Amarildo.
Outro trecho emblemático do diálogo trata menos do sumiço de Amarildo e mais da interferência política no policiamento da Rocinha, uma comunidade com 40 mil eleitores.
Durante a conversa, o major afirma que o deputado estadual licenciado e secretário estadual de Esporte, André Lazaroni, pediu a sua demissão do comando da UPP por e-mail, enviado ao governador Sérgio Cabral.
Lazaroni tem base eleitoral na Rocinha e recebe apoio de líderes comunitários da comunidade.
Procurado para comentar o assunto, o deputado disse a ÉPOCA que o major tenta incriminar seus aliados.
“Isso é mentira do major. Eu renuncio ao mandato, se esse e-mail aparecer. O major faz perseguição às lideranças que me apóiam”, disse Lazaroni.
"Jamais o deputado e secretário Lazaroni teve essa conversa comigo. Não é verdade", afirmou o governador por meio de sua assessoria.
ÉPOCA pediu ao perito Ricardo Molina que analisasse o áudio da conversa entre Duda e o major.
“Não foi detectado qualquer indício de montagem. A gravação é íntegra e não existe descontinuidade ou qualquer outro efeito que pudesse ser atribuído à adulteração de seu conteúdo original”, afirmou Molina.
ÉPOCA enviou ao perito entrevistas à imprensa concedidas pelo major para comparação.
“A voz atribuída ao major Edson é perfeitamente compatível com as amostras padrão apresentadas.”
Procurado, o major confirmou a conversa, mas não quis comentar seu teor.
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora não comentou o caso sob investigação da Polícia Civil.
PS: Aguardemos novas mortes na Rocinha... Amarildo, sumido e acusado de associação ao tráfico vivia num único cômodo inacabado de 10 metros quadrados com uma só porta e a única janela era um basculante convivendo com sete outros familiares em condições sub humanas incompatíveis com acusação de traficante, vapor ou mesmo estica... Pode até ser que Amarildo não fosse o primor de cidadão pedreiro sem pecados mas certamente não era o bandidão que a Polícia agora tenta incuti-lo para se livrar da acusação de assassiná-lo... Não cabe demonizar Amarildo mas somente explicar onde está seu corpo e informar que o executou... JS
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