domingo, 9 de setembro de 2012

Renata Borges fala sobre a prisão do seu esposo, o zagueiro Breno, e nega havê-lo traído com ex-empresário do jogador do Bayern de Munique





Por Clícia Oliveira
Especial para o GLOBOESPORTE.COM, em Munique, Alemanha


Confira na íntegra a entrevista emocionada de Renata Borges, feita em uma lanchonete de Munique na última quinta-feira:

GLOBOESPORTE.COM: Pela primeira vez você está falando abertamente sobre o caso. Por que resolveu falar um ano depois do incêndio?

RENATA: Eu fui proibida de falar durante todo esse tempo. Já queria ter falado antes, mas fui instruída pelo Bayern de Munique e pelo advogado Werner Leitner a não dar nenhum tipo de declaração. Mas agora acho que está na hora de as pessoas saberem a verdade.


O que de fato ocorreu na madrugada de 19 de setembro de 2011?

Breno recebeu a noticia de que teria que fazer a quarta cirurgia. Ele teria que fazer uma raspagem no joelho esquerdo. Quando ele chegou em casa, me chamou para almoçar em um restaurante, pois estava muito triste e queria relaxar um pouco. Estava querendo encontrar o Rafinha (lateral-direito do Bayern) e os amigos. O ex-empresário dele Guilherme Miranda estava com a gente, pois ia acompanhar a cirurgia. O Breno começou a beber cerveja e eu saí, pois tinha que buscar meus filhos na escola. Quando foi umas 5h da tarde, eu liguei e eles estavam indo para casa.
Ele bebeu uma garrafa de vinho do Porto em casa. Ele foi acusado de beber todos os dias, mas como uma pessoa pode beber todos os dias e treinar? Ele bebia só nas folgas dele. Depois de beber o vinho, abriu uma garrafa de whisky. O Guilherme não estava bebendo, mas o Breno estava bebendo demais. Lembro que fiquei assustada, ele já estava indo para a terceira bebida diferente.Coloquei as crianças para dormir e falei para ele parar, pois ia operar no dia seguinte. Mas ele não me obedecia mais. Chegou a turma do Rafinha na minha casa e ele foi até o portão, o Breno é muito tímido e eu me assustei , pois ele pulou na frente do carro do Rafinha. Recordo que ele falou para eu fazer um bife para ele. As coisas que ele falava já não tinham mais sentido.

O Rafinha se assustou?

O Rafinha se assustou também, pois eles iam para o Oktoberfest. Mas o Breno não foi com eles. Teve uma hora que ele começou a ter alucinações e começou a falar que tinha que ajudar o Rafinha e os amigos dele, que os policiais estavam atrás dele, coisa de bêbado mesmo. Ele começou a subir a rua da nossa casa só de bermuda e começou a rolar no chão da pracinha.
Quando cheguei na porta de casa, foi um desespero. Estava tudo tomado pelo fogo. Gritava para os policiais entrarem e salvarem o meu marido"
Quando o Guilherme foi lá ver, ele disse que os policiais estavam atrás dele. Nessa hora ele alucinou total. Ele subiu a rua umas dez vezes. Ele gritava que “os caras” estavam querendo pegar o Rafinha. Quando voltou para casa, ele olhou nosso filho, que estava dormindo, e pediu para eu tomar conta dele. Daí ele abriu a janela do quarto para pular. Eu o abracei e orei. Mas ele fez de novo, nessa hora eu já não conseguia mais segurá-lo. Comecei a gritar pelo Guilherme, pedindo ajuda. Eu segurei por um braço e o Guilherme por outro, mas não conseguimos, pois ele é grande, ele caiu de uma altura de quatro metros. Daí eu falei, pronto, agora acabou o joelho. Mas ele levantou na mesma hora e saiu correndo ainda dizendo que precisava ajudar o Rafinha. Nessa hora ele pegou uma faca enorme e foi para a rua. O Guilherme falou para eu sair de casa com as crianças, pois ele estava muito bêbado e algo pior poderia acontecer. Concordei, acordei as crianças e as coloquei dentro do carro - de pijama ainda. Fiquei dando voltas na rua até uma hora e passei duas vezes em frente à minha casa. Nessa hora, já tinha um monte de garrafa quebrada e as bicicletas jogadas no chão. Liguei para o Rafinha e pedi ajuda. Fiquei parada na esquina dentro do carro, era quase meia-noite. Um pouco depois, vi uns 30 carros de polícia dobrando a minha rua. Daí eu falei: “O Breno se matou!.” Quando cheguei na porta de casa, foi um desespero. Já estava tudo tomado pelo fogo. Eu gritava para os policiais entrarem e salvarem o meu marido. Eu me ajoelhava no chão e implorava para os bombeiros entrarem na casa , mas eles falavam que não dava mais. A casa já tinha lambido. Eu chorei por 20 minutos a morte do Breno. Nessa hora, o Rafinha chegou e ele chorava muito também e começou a pedir para os bombeiros entrarem.


E depois disso?

Chegou uma policial e disse que o Breno estava vivo. Ele estava dentro de um dos carros da polícia com a cabeça baixa, mas não me deixaram chegar perto dele. Fui, então, para a casa do Rafinha com a roupa do corpo e minhas crianças de pijama. Nessa hora, o Breno já estava no hospital. Eu estava realmente atordoada com a situação e aí o Breno me ligou perguntando por que eu não estava lá com ele e o que tinha acontecido. Ele não lembrava de absolutamente nada. Fui para o hospital e perguntei se ele se recordava de alguma coisa. Ele disse que quando voltou para casa e não me encontrou e nem as crianças ficou louco, achou que eu tivesse ido embora. Ele não lembrava da cena de acender alguma coisa para provocar o incêndio. Fiquei pensando nas possibilidades, como um curto-circuito. Ele estava fumando narguilê. O Breno não fuma cigarros. O Werner Leitner o orientou a falar que fumava para a defesa dele. Ele também não lembrava de ter entregue os isqueiros para a polícia. Mas, com certeza, ele tinha os isqueiros, pois acendeu o narguilê. Acho sinceramente que ele não lembra mesmo (do que aconteceu).


Você teria dito que o Breno estava com o Satanás no corpo. Isso foi verdade?

(Quando disse isso) nossos telefones já estavam grampeados. Escutaram uma ligação de uma hora e quarenta com uma amiga e só pegaram isso que eu falei. Contei a verdade para a minha amiga e em um momento eu realmente falei para ela que parecia que ele estava com o diabo no corpo. O Werner Leitner (advogado) estava tratando a gente como criminoso. Nós não podíamos falar no telefone, postar nada do facebook ou twitter. Eu estava vivendo uma prisão psicológica.

E depois que ele saiu do hospital? Como foi?

Levaram ele direto para depor e logo depois ele foi preso. Foram 12 dias de tortura, pois ainda não sabíamos o que estava acontecendo. Eu tinha que arrumar € 500 mil para liberá-lo da prisão. Nós não tínhamos mais nada. O Breno não jogava há dois anos, estava recebendo um seguro de € 10 mil. O Bayern pagou a fiança e ele foi liberado.


Na defesa do advogado, constava que o Breno ficou muito nervoso depois que descobriu que você era amante do empresário Guilherme Miranda. Fato que teria provocado as crises de depressão e a bebedeira. Teve alguma verdade nessa história?

Nenhuma. Isso tudo é uma grande mentira. O Breno é uma pessoa maravilhosa. Nós sempre vivemos muito bem. O advogado inventou essa história porque achou que seria uma boa defesa. Para colocar a culpa em mim. Nunca fui amante do Guilherme, isso nunca existiu. Achei que a defesa do Leitner não foi correta. Eu não pude depor. Ele simplesmente fez a defesa do jeito que ele quis. Inclusive, ele não está mais com o caso. Trocamos de advogado.


Logo depois do incêndio, ligamos algumas vezes para o Guilherme Miranda, que disse que não era mais empresário do Breno. O que aconteceu?

Nós tínhamos que devolver para o Bayern o valor de € 500 mil pagos pela fiança do Breno. Nós fizemos um empréstimo com o clube. Não tínhamos como pagar aquele valor. O Breno não recebia salário há dois anos e aí eles não me ajudaram. Daí o grupo Sonda disse que ia pagar e no final não pagou. No final, nós mesmos acabamos pagando. Depois disso nós rompemos (com o empresário), mas foi numa boa, sem mágoas.

Chegou a sair na imprensa que o Breno estaria negociando com o Lazio da Itália. Isso foi verdade?

Sim. Quando estava acabando o contrato com o Bayern nós fizemos um pré -contrato com o Lazio. Ele ia jogar lá. Tínhamos a certeza de que ele não seria preso e que a nossa vida ia mudar. A gente pensava que ele seria condenado sim, mas que tivesse que pagar pelo prejuízo causado para a Alemanha. Muita gente achou que ele fez isso e achou que não ia dar em nada. Que no Brasil tudo acaba em pizza. Mas não foi nada disso. O tempo todo nós respeitamos a Alemanha. Cheguei a mandar coisas para a Itália, roupas e brinquedos das crianças que conseguimos comprar de novo.


E o Bayern? Ajudou vocês?

Não gostaria de falar do Bayern.

Como foi para você ficar sem nada? Sem roupas, documentos, pertences pessoais...

Engraçado que às vezes a gente acha que algumas coisas são difíceis na vida. Mas tem coisas piores. Eu chorei tanto porque perdi minhas bolsas, mas isso é merda, depois eu pensei: “Meu marido está preso. Eu só pensava nisso. Eu fiquei sem nada, realmente perdi tudo. Ficamos sem roupas,sapatos ,documentos, absolutamente nada. Hoje eu tenho o básico. Descobri que preciso de pouco para viver. Estou agora com problemas na escola das crianças por conta dos documentos.


Visita o Breno na prisão? De quanto em quanto tempo?

De 15 em 15 dias eu o visito, durante uma hora. O Breno está sendo bem tratado lá. Ele não teve depressão e eu fico sempre do lado dele dando a maior força. Ele decidiu trabalhar na lavanderia, depois deixam ele correr e fazer bicicleta. Agora eles permitiram visita assim, cara a cara, antes era com um vidro, como se ele fosse um criminoso. Levei as crianças lá, na semana passada, e foi um chororô danado. O Pietro pedia para o Breno ir embora com a gente, que ele já tinha trabalhado bastante, porque nós falamos para ele que o Breno estava trabalhando. Nós choramos muito. Foi uma tristeza só.

E como estão vivendo agora? Não deve ser fácil para você tomar conta das três crianças. Como se vira?

As crianças ficaram no Brasil dois meses. Peguei eles na semana passada. Agora que eu estou me organizando nesse apartamento de 50 metros quadrados. É pequeno, mas é tranquilo. Tem dias que eu me pergunto: “Deus, será que eu vou aguentar?”. Mas aí vem uma força lá de dentro, de Deus, e eu consigo fazer tudo. Levar para escola, fazer comida, dar atenção para eles.

E financeiramente?

Eu me organizei um pouco no Brasil. Nós temos algumas coisas lá, imóveis, mas não me desfiz de tudo. Vendi algumas coisas pequenas para sobreviver aqui. Estou vivendo uma vida simples, sem luxo. Estou até vendo um trabalho para mim em um bar português. Assim eu teria os benefícios do país, como seguro-saúde e outras coisas.

Chegou a pedir ajuda para as autoridades brasileiras?

Eu fui no Itamaraty, mas não existe acordo entre Brasil e Alemanha. Então, o Brasil não pode chegar e falar que quer trazer a pessoa para cumprir pena no seu próprio país.


O que espera daqui para frente?

Espero que realmente o processo seja reavaliado. Que vejam o ser humano Breno. Queria que a Justiça percebesse que nós somos uma família linda e meu marido não é um criminoso.

Se tivesse que agradecer agora alguém que tenha te ajudado nessa difícil caminhada, quem seria?

Deus. Eu tenho muita fé.




PS: Pelas características, chifre é bem provável como motivação (pode ter não havido traição mas alguém deve ter lhe repassado esta informação)... E, a reação do rapaz lembra cenas do filme 'Se beber não case' com direito a todos ingredientes... No mais, realmente viver com 10 mil euros/mês é uma bosta... JS




Um comentário:

  1. O que se sabe aqui na Alemanha, através dos meios de comunicacão, é que a prisão do jogador Breno se deve ao fato dele ter propositadamente ateado fogo à casa onde ele e sua família moravam de aluguel. O prejuízo foi total, como se pode perceber pelas fotos, e o imóvel era avaliado em 1 milhão de Euro.
    C. C.

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